A BELEZA INTERESSADA: A CRÍTICA DE NIETZSCHE À ESTÉTICA DE KANT
Kant argumentou, em sua Crítica da faculdade de julgar, que a apreciação estética do belo ocorre de modo desinteressado, promovendo uma suspensão dos instintos sensíveis e racionais. Nietzsche contestou essa visão na Genealogia da moral, argumentando que a apreciação do belo está intrinsecamente relacionada aos nossos desejos, paixões e interesses individuais. Primeiro passando pela leitura de Heidegger, de que Nietzsche, devido à influência de Schopenhauer, tenha talvez interpretado equivocadamente a Kant, o artigo busca mostrar a interpretação de Nietzsche da “beleza desinteressada” enquanto fruto da má consciência em vista de desacreditar haver algo como não-egoísmo. Em seguida, expõe a argumentação apoiada na compreensão de que o belo estimula nossas forças, vivências e desejos, dando sustento à noção de beleza interessada. Por fim, a partir da concepção epistemológica do perspectivismo, aborda-se a rejeição de Nietzsche da noção de sujeito transcendental de Kant e do modo como, ausente de sujeito, restam apenas as forças e suas dinâmicas de vontade de poder
PERIÓDICO ALAMEDAS VOL. 12 N.1 – 2024 (UNIOESTE)
SCHILLER E A PROMESSA POLÍTICA DA EDUCAÇÃO ESTÉTICA
Este trabalho investiga como a teoria do filósofo Friedrich Schiller sobre a beleza apresenta um novo tipo de liberdade, com o estado estético da mente, que carrega uma promessa política. Schiller defendeu que, quando contempla a beleza, nenhuma aptidão domina o sujeito, que atinge um estado de suspensão, ativo e passivo ao mesmo tempo: o estado estético. Nele, ambas as suas legislações, sensibilidade e razão, se harmonizam. Jacques Rancière argumentou, em Mal-estar na estética, que a educação estética de Schiller pode ser uma alternativa à ideia de revolução política, por configurar uma nova experiência do sensível onde todos são iguais. Como apontou Rancière, há, na experiência do jogo estético, a revogação do domínio que a razão estabelecia sobre a sensibilidade, tal como daquele empreendido pelo opressor sobre o oprimido. Este regime da autonomia na forma de experiência do sensível se lança, para além do estético, ao político, da beleza à liberdade.
PERIÓDICO PÓLEMOS - REVISTA DOS ESTUDANTES DE FILOSOFIA DA UNB - 2023
EDUCAÇÃO ESTÉTICA: DO BELO AO PAU-BRASIL
Antes do surgimento do discurso filosófico, os poetas foram os educadores da civilização ocidental. Platão conhecia bem a potência de pensamento da arte e dos mitos, de modo que os artistas constituíam uma ameaça aos alicerces de sua República, da qual os expulsou. Com algumas exceções, educação e estética mantiveram-se divorciadas até a era moderna. Entre os maiores transgressores dos muros da República, está o alemão Friedrich Schiller, poeta e dramaturgo, mas também historiador e filósofo do século XVIII. Filho da poesia, além de dedicar anos à Filosofia, Schiller defendeu que o cultivo da sensibilidade era uma etapa necessária para o pleno desenvolvimento humano.
No Brasil, tanto mais tarde no Tropicalismo, como já no Modernismo, uma forte tradição de pensamento se consolidou por meios artísticos. Os movimentos culturais, via artes plásticas, literatura, música e cinema, promoveram uma singular espécie de educação estética, compromissada com a identidade e a formação nacional. Este ensaio investiga como o Modernismo Brasileiro, em seu contexto, respondeu à reivindicação schilleriana de uma educação estética [...]
PERIÓDICO ALTER VOL. 16, N. 1 – 2022 (PUC-RIO)