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As estrelas não se importam com a sua vida amorosa: por que a Astrologia é falsa

  • Foto do escritor: Matheus Benites
    Matheus Benites
  • 8 de mai. de 2024
  • 4 min de leitura

No cotidiano do ser humano ocidental mediano, ao menos nas grandes cidades, ainda se fala muito em astrologia. Talvez será um colega de trabalho no almoço que comentará algo sobre o horóscopo, ou sua nova companheira perguntará se você já fez um mapa astral. Até mesmo aplicativos de paquera dispõe da opção de exibir seu signo do zodíaco (não me pergunte como eu sei disso). Entretanto, a astrologia não dispõe de evidências e é considerada uma pseudociência pela comunidade científica. Há séculos filósofos e cientistas têm manifestado sua rejeição desse "saber" milenar. Por que diabos, então, continuamos a falar de signos e mapas astrais?


A astrologia é um sistema de crenças que estuda a posição relativa e os movimentos dos corpos celestes e como eles podem influenciar a vida na Terra, bem como as personalidades das pessoas. Baseia-se na ideia de que existe uma relação simbólica entre os movimentos das estrelas e os acontecimentos na vida humana. Os astrólogos interpretam esses movimentos e posições celestes para fazer previsões sobre questões pessoais, como amor, carreira e saúde, e também sobre eventos mundiais. Porém, a astrologia não possui fundamentação científica. É comum argumentarem que ela é verdadeira pelo fato de ser muito antiga, com os primeiros registros de astrólogos remontando à antiga Mesopotâmia em 4 mil antes da era comum,  e ainda estar presente na sociedade. Mas este argumento é ruim porque, não é porque algo é antigo e resistente que ele é verdadeiro ou correto. O sistema ptolomaico, que defendia que a Terra era o centro universo, também perdurou por muito tempo e influenciou muito diversas culturas, até descobrirmos que ele é falso. Religiões que hoje estão extintas também perduraramm por muito tempo, antes de serem extintas . As que perduram hoje não deixam de ser falsas porque perduram.


O efeito Forer


O efeito Forer, também conhecido como a falácia de validação pessoal ou generalização subjetiva, descreve a tendência das pessoas em aceitar descrições vagas e generalizadas sobre suas personalidades como sendo precisas e específicas para elas, mesmo que essas descrições possam ser aplicadas a uma ampla variedade de pessoas.


Na astrologia, os horóscopos e outras análises astrológicas muitas vezes oferecem previsões vagas e genéricas sobre a personalidade e o destino das pessoas, baseadas apenas na posição dos astros no momento do nascimento. No entanto, as pessoas muitas vezes interpretam essas descrições como altamente específicas e relevantes para suas vidas individuais, devido ao efeito Forer.

Por exemplo, um horóscopo pode afirmar que "pessoas nascidas sob o signo de Leão são líderes naturais, carismáticos e gostam de estar no centro das atenções". Muitas pessoas que se identificam como leoninas podem concordar com essa descrição, mesmo que essas características se apliquem a uma variedade de pessoas de diferentes signos do zodíaco.





O viés de confirmação


Quem costuma fazer previsões, corre o risco de acertar de vez em quando. O desenho animado “Os Simpsons” é famoso pela quantidade de “previsões” (como a eleição de Donald Trump como presidente dos EUA) que realizou, estando no ar por... 35 anos! Numa palavra: quem quer muito um determinado resultado, tende a valorizar somente aqueles que o corroboram, deixando de dar atenção para a vasta gama de resultados contrários ao que deseja. Então, ao olhar um mapa astral, tal pessoa, que quer muito acreditar, foca muito mais nos acertos do que nos erros do astrólogo e trata aquilo, que é genérico e pode servir para inúmeras pessoas, como se fosse totalmente particular e individualizado.






O desejo pelo pré-determinado


Como filósofo, eu desconfio que a Astrologia é tão popular ainda hoje por haver um forte desejo humano por algo que seja pré-determinado. É mais confortável pensar desse modo sobre sua vida e o seu futuro, que as estrelas cuidaram de tudo por você e você pertence a uma categoria X, que deve trilhar o caminho Y no período Z, do que constatar que você é o único responsável pelas suas escolhas e que está vivo em um universo a respeito do qual muita coisa não se sabe.


Mesmo Cícero, um filósofo da Roma Antiga, em sua obra "Sobre a Adivinhação", já criticava a astrologia como falsa, argumentando que não havia base racional para acreditar que os corpos celestes pudessem influenciar diretamente os eventos na Terra. Na modernidade, inúmeros filósofos e cientistas, de René Descartes e Isaac Newton a Neil deGrasse Tyson e Richard Dawkins, argumentaram sem grandes dificuldades sobre a falsidade da astrologia.


A astrologia e pseudociências afins podem ser perigosas se você deixa de tomar decisões importantes ou toma decisões pouco ponderadas a partir de recomendações de horóscopos, videntes, paranormais ou astrólogos. A astrologia pode prevenir relacionamentos de começarem, turvar a visão que uma pessoa tem de outra. De certa forma, ela te encoraja a não assumir responsabilidade sobre sua vida, defende que as atitudes de alguém tem pouca ou nenhuma ingerência no seu destino, totalmente sujeito a essa vaga força celestial onipotente. Precisamos nos policiar e parar de propagar essa pseudociência, mesmo em nossas conversas desinteressadas do cotidiano.





 
 
 

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