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Ode à Imanência: Por que a vida no tempo supera a eternidade e sua perfeição

  • Foto do escritor: Matheus Benites
    Matheus Benites
  • 7 de mai. de 2024
  • 2 min de leitura

Nós vivemos no tempo. Tudo na vida, como já dizia Heráclito, está em movimento, transformação. A tradição teológica cristã, com forte herança de Platão, projetou uma outra instância para a realidade: a metafísica. À imanência, contrapuseram a transcendência. Ao tempo, a eternidade. Se, no mundo temporal, as coisas padecem e os viventes morrem, na eternidade tudo permanece igual. Sim, dizer que algo muda no plano eterno seria uma contradição lógica. 

   Quando você pensa sobre a ideia de um paraíso, sem entrar em minúcias e digressões de interpretações teológicas, você percebe que, existisse tal instância, você necessariamente não poderia ser mais o mesmo para habitá-la, pois você é um fluxo de transformações e toda referência de seu modo de ser se reporta a um modo de ser imanente. Então você teria que ser transfigurado, metafisicamente, em outra coisa (que os religiosos podem chamar como preferirem), como, por exemplo, algo da ordem de um triângulo perfeito (que não existe no tempo e só é possível na eternidade). Ora, ao meu ver, habitar o tempo, com todas as suas imperfeições, é melhor do que habitar a eternidade. Pois somente no tempo pode haver criação. Somente no tempo pode haver Ser. Na eternidade, só pode haver Ser pleno, ou Deus (para os deístas). E o que seria isto? Um Ser absoluto, indiferenciado, indivisível, infinito, puro e perfeito. 

    Tudo o que eu conheço como referência do que é bom, nobre e digno para uma existência pede como pressuposto a possibilidade da mudança, do sentir e do padecer. Em suma, tudo que vale a pena vale a pena porque existe o seu oposto, a presença é boa porque existe a falta, o bom é bom porque se contrapõe ao ruim, o ocorrido ao não-ocorrido, o prazer ao desprazer. Se o mundo fosse uma Unidade infinita e indiferenciada sem a possibilidade do erro, a existência seria, ela mesma, um erro. Por isso é bom, ainda que não pareça, que precisemos lutar por aquilo que queremos. E isso é algo importante de ter em mente nos momentos difíceis, quando somos tomados por uma revolta contra a existência. Não há vida sem que haja a possibilidade do sofrimento, do desejo, da fome e do frio. Por tudo isso, e apesar do peso de ser um homem com suas necessidades e responsabilidades, prefiro o tempo à eternidade. 


Matheus Benites

20 de novembro de 2023


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